quinta-feira, 23 de junho de 2011

Investigando as origens do metrossexual



Ainda no madrugador ano de 1926, um circunspecto editorial do Chicago Tribune pôs na conta do galã Rodolfo Valentino (1995-1926) a culpa pela primeira onda de femenizaçao do homem na América.
Pura sacanagem dos jornalistas, óbvio, como nos relata o escriba H.L.Mencken n´O Livro dos Insultos (Cia das Letras).
Jornalismo marrom à parte, quem teria sido, cá na terra do mulato de inzonas tantas, o responsável pelas primeiras influências no amolecimento do macho brasileiro de raiz?
O Databoteco, instituto de pesquisas nocturnas deste cronista de costumes, despachou as suas mais gentis funcionárias para ouvir o distinto público nas boas casas do ramo.
O cantor Mário Reis (1907 -1981), rapaz de fino trato, teria sido o nosso primeiro homem célebre a influenciar a plebe rude nesse quesito, conforme o levantamento feito por nossas vestais e imparciais pesquisadoras.
Não que fosse construído à imagem e semelhança do Valentino de “Os quatro cavaleiros do apocalipse” ou de “O Sheik”, por exemplo.
Simplesmente por emprestar uma sensibilidade mínima ao então cenário de macheza absoluta.
O intérprete de “Carinhos da vovó” e “Deus nos livre do castigo das mulheres” era um moço cuidadoso com o visual, um dândi, sempre na estica e nos bons modos.
O mais lembrado é Mário Reis, sim senhor. A fila de possíveis pioneiros, todavia, nela incluídos héteros e homos semi-declarados, dobra quarteirões.
Castro Alves, rival do abolicionista Joaquim Nabuco nessa peleja, tem destaque na galeria, como lembra a amiga Bia Abramo ao cronista. Beirava o janota, é o que diz o seu biógrafo Alberto da Costa e Silva.
Ai vemos também na fila o João do Rio, o Cauby Peixoto, a Carmem Miranda –praticamente inventora do travestismo no país-, o boleiro Heleno de Freitas, que de tão preocupado com o visual chegava a jogar futebol com um pente no bolso, e tantos outros gamenhos do meu Brasil varonil, como diz o Zé Bonitinho, este o mais radical e testosteronizado dos nossos ídolos televisivos do gênero.
É, mas que me perdoem as gostosas do Databoteco, que me desculpe também dom Mário Reis, onde estiver, tenho que registrar minha embriagada opinião: o homem mais elegante da música brasileira, sem frescura, claro, é o nosso Ronnie Von, O Príncipe, aviador e enólogo sem arrotar o bouquet da arrogância desnecessária.
Para completar, Ronnie é o último cavalheiro em meio à bagaceirice televisa, falando para a fofolândia com devoção e delicadeza. O nome do programa diz tudo “Todo seu” (Tv Gazeta).
Sou fã e recomendo. Vale como um Flaubert para esses moços, pobres moços, que tratam as gazelas como se fossem “manos” com quem acabaram de cruzar na esquina.

Chico Sá – jornalista – escritor



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