segunda-feira, 2 de junho de 2008

Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." NELSON RODRIGUES


MUDANÇA ORTOGRÁFICA

Parlamento português aprova acordo ortográfico
RIO, 16 (AG) - O Parlamento português aprovou, hoje, o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o que encerra décadas de discussão sobre a questão. Assim, Portugal se une a Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, que, em 2007, ratificaram o protocolo, o que já garantia a sua entrada em vigor.
No início deste ano, o Ministério da Educação no Brasil determinou que as obras inscritas no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) estejam em conformidade com as novas normas a partir de 2010. Já Portugal terá mais seis anos para se adaptar à nova maneira de escrever. O protocolo também abre caminho para a adesão do Timor Leste, que, no ano de 1990, em que foi assinado o primeiro protocolo, não era ainda um Estado soberano.
A discussão sobre o acordo dividiu a sociedade portuguesa: para muitos intelectuais, a adesão significa ceder a interesses do Brasil, onde está a maioria dos falantes de língua portuguesa no mundo. Outros consideram uma decisão estratégica em tempos de globalização. Segundo especialistas, as mudanças não são profundas. Com o acordo, o alfabeto passará a ter 26 letras, com a volta de “k”, “w” e “y”. Na gramática brasileira, as principais mudanças são a eliminação do trema, do acento nos ditongos abertos “ei” e “oi” de palavras paroxítonas (como “idéia” e “heróico”), no hiato “oo” (de enjôo ou vôo) e nas formas verbais “crêem”, “lêem”, “dêem”. Em Portugal, serão suprimidas as consoantes mudas (de “acção” ou “director”) e o “h” inicial de palavras como “húmido”.
O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cícero Sandroni, saudou com entusiasmo a notícia: — A Academia, cujos trabalhos de elaboração do acordo datam do início dos anos 70, prosseguidos na década de 80 por iniciativa do acadêmico e filólogo Antonio Houaiss, encara essa aprovação como um marco histórico. Inscreve-se, finalmente, a língua portuguesa no rol daquelas que conseguiram beneficiar-se há mais tempo da unificação de seu sistema de grafar, numa demonstração de consciência da política do idioma e de maturidade na defesa, difusão e ilustração da língua da lusofonia.
O filólogo e acadêmico Evanildo Bechara também elogiou a aprovação do acordo como demonstração do “alto grau de maturidade política alcançado pelos países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP)”. O texto, com as novas normas, será publicado no Diário da República (diário oficial português) nos próximos dias, e deve ser sancionado pelo presidente Cavaco Silva, que já se manifestou favoravelmente ao acordo.